URUGUAIANA JN PREVISÃO

BRIANE MACHADO

Quando o mito da beleza se torna uma prisão a céu aberto

Em algum momento da vida você já ouviu críticas sobre o seu corpo?

Já falaram algo negativo sobre os traços do seu rosto ou sobre o tamanho, a cor e o corte do seu cabelo? Já te perguntaram se gostarias de se submeter a um alisamento para desfazer os seus cachos naturais? Ou, ainda, por qual motivo não colocastes próteses de silicone?

Pelo menos, uma vez ao longo da vida - sendo muito razoável - ouvimos de alguém a crítica disfarçada de incentivo para a mudança.

Um padrão inatingível de beleza foi criado e implantado nos cérebros humanos para que todas nós, mulheres - sim, isso é recorrente no mundo feminino - tenhamos o mesmo padrão de corpo, rosto, cabelo. Caso contrário, não estamos aptas e nem dignas de sermos elogiadas por nossa beleza natural.

Até que chegamos ao ponto de ouvirmos críticas de outras mulheres, as quais caíram na tentação da submissão, muitas vezes de forma precoce, ao corte do bisturi e dos implantes, das reduções, das sucções do que nem existe.

Para os olhos de alguns, precisamos ter nariz afilado, queixo levemente projetado, lábios milimetricamente desenhados, cílios volumosos, sobrancelhas bem desenhadas e, logicamente, as maçãs do rosto precisam ser cuidadosamente salientes.

Mas, por qual motivo precisamos parecer todas iguais? Por que eu preciso ter certas medidas no meu corpo quando estou satisfeita com ele?

Por muito tempo, principalmente durante a adolescência e início da fase adulta, ouvi de inúmeras pessoas que eu precisaria engordar, que não era bonito ser muito magra, que eu deveria colocar silicone. E acabei travando uma batalha que durou anos e me desgastou tanto na busca por alguns quilos e por um padrão que fugia totalmente ao meu biotipo.

Não sei dizer a quantidade de vitaminas que ingeri ou o tanto que comi, compulsivamente, muitas vezes, de forma equivocada, apenas para adquirir o "peso" que tanto gostariam que eu tivesse.

E, todas essas críticas, vinham de pessoas que nem me conheciam direito, que não estavam no meu convívio direto, que hoje nem me lembro da existência, mas que, naquela época, me afetaram negativamente.

Eu não tive a maturidade de dizer que estava feliz com o meu corpo, que não havia necessidade de adquirir peso, uma vez que, mesmo magra, sempre fui saudável.

Quando eu falava com alguma pessoa que estava também na batalha contra a balança - só que para perder peso - ouvia a seguinte frase: "Ah, eu aqui fazendo dieta para perder e tu querendo ganhar. Só pode ser louca!".

Um claro revide à empatia, uma vez que a batalha era a mesma, o sofrimento era o mesmo. A luta de ambas era contra o próprio corpo.

Até que, depois de muitos anos, veio a libertação e a quebra das correntes que me amarravam à busca de um padrão inatingível que não tinha como objetivo me agradar, mas sim aos outros que não tinham a menor importância na minha vida.

Quando falamos em mudar o próprio corpo, precisamos fazê-lo com total consciência emocional sobre os motivos que estão levando a buscar por procedimentos estéticos. Identificamos o ponto principal e se aquilo é necessário, pois está me afetando psicologicamente e irá melhorar a minha qualidade de vida ou se é uma "fuga" para preencher outros setores da vida.

A normalização de cirurgias plásticas está roubando vidas e rivalizando mulheres.

A única obrigação que temos é de sermos felizes dentro de nossos próprios corpos e o julgamento não pode começar pelo ser humano que nele habita. Caso contrário, as críticas externas dominarão a existência.

Sejamos livres para naturalizar os corpos humanos.  

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