URUGUAIANA JN PREVISÃO

BRIANE MACHADO

Motivos para comemorar

O dia era 17 de julho de 1994. A nação brasileira estava toda reunida em um só compasso depois de um mês inteiro de várias partidas no cenário mundial.

Eu tinha 05 anos e lembro exatamente da roupa que vestia. Minha tia havia confeccionado várias bandanas para todos os sobrinhos e as camisetas, como ainda estão na minha memória, tinham aquele viés vintage, mas que representavam o tamanho da torcida e quem era o ídolo de cada um naquele momento.

Minha camiseta ostentava o número 8 nas costas. Sim, Dunga era o nome dele. Fã incondicional.

Com meus cabelos cacheados e usando aquele lenço, eu era a própria miniatura do Bell Marques. Risos.

Poderia até ser, visto que sempre gostei de axé e tudo que remete a Bahia. Um salve para a Bahia!

Mas, como nada no Brasil vem com facilidade, a partida foi decidida nos pênaltis. Naquele dia a Itália voltou para casa. Todas as crianças saíram de suas casas para comemorar o título. As ruas estavam enfeitadas com as cores da bandeira. E essa comemoração está guardada até hoje, rica em detalhes e com aquele gostinho de felicidade. Aquele domingo foi memorável!

Coincidentemente, no dia 17 de janeiro de 2021, tivemos mais uma vitória para comemorar.

Passamos 09 meses esperando por aquilo que não nos daria um título, mas que garantirá vida para todos nós brasileiros.

Nunca um plantão jornalístico foi tão esperado, uma aprovação tão aguardada e aquele domingo foi tão comemorado quanto uma final de Copa do Mundo.

Perdemos - e ainda estamos perdendo - brasileiros para algo tão devastador que eu jamais imaginei presenciar durante a vida.

Quando, finalmente, a primeira brasileira recebeu a primeira dose da vacina foi o símbolo da esperança, da fé, de acreditar que a ciência nos dá meios, formas, subsídios para que possamos seguir em frente.

Aquelas gotas de vida são a possibilidade de voltarmos a viver, visto que há vários meses torcemos para sobreviver a tudo isso.

Nós, que não somos negacionistas, que buscamos o conhecimento científico para embasar cada passo dado nos últimos meses, que não acreditamos em tratamento precoce ou em qualquer tipo de kit sem comprovação para driblar o inimigo, ganhamos o dia, o mês, o ano, a vida inteira com aquele sopro de vida.

Durante a Copa de 94, torcemos por uma seleção inteira que estava representando nosso país em uma disputa mundial. Hoje, faltam palavras para agradecer ao time de cientistas que estão espalhados pelo mundo e que, sem eles, a tecnologia e o incansável empenho em seu desenvolvimento.

O mundo agradece, torce e vibra a cada dose aplicada. A cada vida que será salva. E, sim, a emoção sentida no último domingo ao assistir Mônica Aparecida Calazans receber a primeira dose, foi imensamente maior do que ver o Dunga levantar a taça em 94.

Não ganhamos um título, mas a possibilidade de vivermos. E isso, não carece de nenhuma comparação.

Mas, tenho certeza que, se pudéssemos, teríamos saído às ruas para uma comemoração à altura da conquista.

Ainda iremos.  

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