URUGUAIANA JN PREVISÃO

BRIANE MACHADO

Diga não ao 'tanto faz'

Você já deve ter ouvido - acredito que inúmeras vezes - alguém falando a expressão (não tão satisfatória) "tanto faz".

"O que eu faço para o jantar"?

"Tanto faz"!

"Prefere azul ou amarelo"?

"Tanto faz"!

E eu nunca tinha percebido o estrago que oito letras divididas em duas palavras podem fazer na vida de uma pessoa.

Como boa ariana que sou, sempre prezei pelo caminho mais prático, mais rápido e eficaz. E por ser tão prática e querer tudo para ontem, penso que fazer escolhas que advém de outrem pode incomodar ou dar trabalho.

Incontáveis vezes me perguntaram o que eu preferia ganhar de presente, qual deveria ser o cardápio do almoço, o restaurante que gosto mais, dentre outras opções que, na tentativa de encurtar caminhos e facilitar a vida do interlocutor, simplesmente respondia o terrível "tanto faz".

Mas, alguma coisa que veio de um lugar desconhecido, não sei como, nem quando ou porque, me fez perceber que eu não estava poupando aquela pessoa de um trabalho que eu pudesse dar, na verdade, eu estava atribuindo a ela toda escolha que deveria ser minha, ou seja, ela estava pedindo ajuda e a minha resposta poderia encurtar o seu caminho diante da dúvida.

Então, passei a ver o "tanto faz" da forma como ele é de verdade, sem as sombras de uma falsa solidariedade e com toda a vestimenta da indiferença.

Pode ser que não tenhas percebido ainda, mas essa expressão é sinônima àquela palavra que tanto detestamos e que causa arrepios em qualquer ser vivo.

Tratar o que está a nossa volta com indiferença causa ao outro não só a dor da rejeição, mas também o sofrimento de pensar que a sua presença, a sua ajuda, a sua vontade, a sua energia e o seu tempo estão sendo gastos de forma inútil.

É um dar de ombros para toda e qualquer situação; é não saber se posicionar; não ter opiniões; não conseguir fazer escolhas.

Um "tanto faz" bem dito causa dores que nem se pode imaginar. Nós, seres humanos, muitas vezes pautados na praticidade e urgência, deixamos de lado a possibilidade de facilitar a vida de quem está à disposição, pensando que aquela indiferença convertida em dar de ombros beneficiará o seu próprio ego e deixará livre quem questiona para fazer o que tiver vontade.

Ocorre que a indiferença é sombria, gélida, machuca mais do que cacos de vidro, faz sangrar. Indiferença é ausência de sentimentos - bons ou ruins -, é saber que "nada sou para quem quero ser". E isso fere e marca. É ferida que não cicatriza, é marca que rasga o peito, é nó na garganta.

Toda e qualquer relação humana pode ter um viés de sombra, do qual queremos nos livrar com urgência, talvez, mais rápido do que pronunciar o "tanto faz".

Tratamos as coisas, as pessoas, à natureza como tanto faz. Somos omissos pela pressa. Corremos e não chegamos a lugar algum. Perdemos-nos nas escolhas que deixamos de fazer.

Ficamos à mercê do que o outro decidir. E lá permanecemos. Não por querer, mas por ser mais confortável a inexistência de confronto.

Por isso, lanço o desafio de abolir o "tanto faz" do seu vocabulário.

Opine. Escolha. Viva de acordo com o que queres e não com as imposições do outro.

Conte-me sobre o seu ano em dezembro, certo?!

  

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