Briane Machado
Haja equilíbrio
Não estou falando de força física, mas de capacidade emocional para lidar com os adventos do cotidiano.
Até meados do ano de 2020, acredito que a maioria de nós, habitantes do planeta Terra, se considerava um ser humano extremamente forte, dotado de habilidades para resolver questões psicológicas de maneira mais simples e eficaz. Às vezes, com auxílio de profissionais, familiares ou de um amigo próximo.
Acontece que março chegou e com ele um arrastão de possibilidades que foram cortadas de nossas vidas, sem dó nem piedade.
Pensávamos - e falávamos - que sairíamos da zona cinzenta fortalecidos, com a fé renovada (essa parte eu não discuto), prontos para enfrentarmos o mundo.
Porém, beiramos à ilusão, quiçá, a desilusão em dias melhores, em prazos encurtados, em quarentena de quinze dias, em números reduzidos.
Aqueles mais otimistas pensaram que o vírus iria embora juntamente à virada de 2020.
Outros, mais realistas, tinham a convicção que nada acabaria ali, que ainda tínhamos um longo caminho pela frente.
E preciso concordar que este último grupo estava certíssimo. Gostaria que fosse mentira, mas é a pura e dura realidade.
Continuamos na berlinda, sem sabermos para onde ir. Hoje, além do receio absoluto que a maioria de nós adquiriu, lidamos com a exaustão do cuidado excessivo. Nenhuma embalagem entra em casa sem passar por uma cuidadosa inspeção e nos penalizamos por aqueles que não dispõem de meios para fazê-la.
Nos preocupamos com o coletivo, muitas vezes, de forma automática. Não lembramos somente com o bem estar do outro, mas em diminuir os riscos para nós mesmos.
Egoísmo ou sobrevivência?
Fugir de quem está sem máscara é um mal necessário e não exclusão.
Em meio a tantas notícias que nos abalam de forma profunda, vibramos com cada dose de vacina aplicada. E quando uma nova remessa chega à cidade, é comemorada, aguardada, todos correm para avisar quem está dentro daquele grupo. Um evento. O momento em que vemos a humanidade perseverar.
Não ficamos felizes somente por nós, mas por quem está recebendo a chance do bom combate, do enfrentamento.
Vivemos a dualidade: choramos por cada vida que parte, comemoramos por cada dose que chega. Extremos entre dor e alegria.
Então, me pergunto: Como sairemos mais fortes de um período tão difícil?
Será mesmo que essa prova de fogo terá fim? O corpo físico resiste, mas o que faremos com os abalos sistematizados que estamos sofrendo?
Cenas de um colapso.
Assistimos a certas atrocidades de camarote, sem possibilidade de fuga.
Sentamos e esperamos. Rezamos. Torcemos. Vibramos. Oito ou oitenta. De zero a cem de um segundo a outro.
Outros sintomas do vírus: coração agitado, mente inquieta, exaustão, confusão mental, medo recorrente, limitações.
Um dia de cada vez. Um alívio por dia. Algumas lágrimas por hora.
E vamos seguindo, nos permitindo sobreviver onde nem todos temem e alguns desacreditam da realidade.
Ainda é possível ter mente sã no país em que vivemos?
Continuemos.
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