URUGUAIANA JN PREVISÃO

BRIANE MACHADO

Carta aberta para 2020

Olá, 2020! Não sei se posso perguntar se está tudo bem porque, visivelmente, não está.  

Desculpe, mas não foi exatamente isso que planejei para os 12 meses do ano.

Sim, vou lhe dar o desconto de janeiro de fevereiro, mas é só.

Lembro-me da virada do ano de 2019, nos últimos minutos do dia 31 de dezembro eu pensei - e ainda falei em alto e bom som: Esse ano será "O" ano!

E foi.

Porém, 2020, eu estava me referindo às coisas boas, aos planos, aos objetivos, a tudo que estava na listinha de resolução e eu estava com muita vontade de por em prática. É sério.

Só que não foi bem assim. Claramente, foi o oposto.

Eu fiz o que não deveria: criei expectativas. É! Todos falam que não devemos cria-la, que é mais fácil criar um unicórnio ou um dinossauro a sustentar as expectativas de um ser humano. Já havia sido avisada, porém, não teve jeito.

E eu tenho a real certeza que muitos que lerão essa carta fizeram o mesmo. Expectativas criadas, tombos certos. Pra falar a verdade, os "hematomas" ainda estão por aqui.

Poderia ter sido mais fácil, menos doloroso, menos triste, menos solitário. Sinceramente, não vou romantizar o sofrimento. Estávamos todos vivendo quando precisamos aprender a sobreviver e cuidar para que as pessoas que amamos também sobrevivam. É difícil? Demais.

Se sentir como uma bomba-relógio, um transporte letal é a pior experiência que a minha geração já viveu. Convenhamos que ainda há pessoas acreditando na "gripezinha" ou que são imunes a devastação que vem sendo causada. Costumo chama-los de "alecrins dourados" ou "flocos de neve", tamanha sorte e pureza. Contém doses de ironia.

A questão é que você, 2020, está indo embora e nos deixou inúmeras (talvez, incontáveis) lições que eu não sei nem por onde começar a listar.

Acredito que nem precise. Sentimos na pele os impactos, vivemos dia após dia, semana após semana, mês após mês, esperando, rezando, torcendo, cuidando para que não fossemos mais uma vítima, mais um número inserido na estatística.

Por falar nisso, números, curvas e picos entraram para a minha listinha de palavras insolentes, aquelas que dão aflição só de ouvir.

O senhor sabe que estamos com as vidas travadas, não é?

Nossa! É muito complicado. Nós sempre esperamos o melhor em cada passagem de ano, desejamos saúde para que tenhamos as possibilidades de concretizarmos o que tanto queremos.

Confesso que meus planos em longo prazo cederam seus lugares para aqueles que posso realizar e/ou resolver ainda durante a semana.

Mas, quando olho para os lados, vejo situações muito piores, daquelas que cortam o coração e que, muitas vezes, não há muito que ser feito além de orações.

Foi assim que percebi a sua primeira lição: tenha fé.

E quando vemos algo difícil acontecendo ao lado, recebemos outra lição logo em seguida: seja grato.

Logo, quando temos notícias de famílias que não conseguem se despedir de seus entes queridos, a terceira lição aparece: não deixe para amar na ausência.

Algo invisível a olho nu assolou o mundo e nos fez descer do pedestal: somos menores que um grão de areia, isto é, seja humilde.

E a última, mas não menos importante: tenha paciência.

Estamos aprendendo aos poucos, alguns são mais resistentes. Mas, acho que dará certo.

Por gentileza, 2020, avise ao seu colega, 2021, para trazer a vacina e a recuperação emocional que precisamos. Está sendo puxado, viu?!

E, quando for fazer as malas, não se esqueça de levar a "gripezinha" embora.

Adeus, Ano Velho!


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