URUGUAIANA JN PREVISÃO

BRIANE MACHADO

O patinete bip, bip

Dia desses, lembrei-me do Natal de 1999 e de como eu e uma amiga queríamos muito ganhar patinetes de presente.

Nos encontrávamos durante os finais de semana e conversávamos sobre quais seriam suas cores, os modelos e onde iríamos para darmos as desequilibradas voltinhas iniciais.

Naquela época, os patinetes estavam ressurgindo e, depois de muito andarmos de patins - e amarmos até hoje - queríamos a experiência do patinete (já que o skate estava fora de cogitação por uma escolha de nossas mães, óbvio).

O Natal chegou e, de fato, ganhamos os nossos tão esperados patinetes reluzentes.

E, logicamente, no final de semana seguinte, estávamos juntas na praça da cidade estreando os presentes tão esperados - com muitos arranhões e curativos nos pés.

Quando criança, o presente reverberava por muitos meses, às vezes, por mais de ano. Sabíamos que não era tão simples ir até a loja e deixar algumas notas para levar algo para casa. E, com ele, recebíamos inúmeras recomendações que ficavam circulando na mente.

Mas, com o passar do tempo, deixamos de pedir presentes ao Papai Noel para comprar o que estamos precisando ou o que queremos para satisfazer alguma coisa que, na maioria das vezes, nem sabemos explicar de onde surgiu aquela ideia.

O conceito de consumo costuma nos visitar sempre que pode, trazendo a possibilidade de taparmos um buraco existencial.

Quando criança, temos o desejo de ter algo porque não dispomos do poder aquisitivo para tanto, isto é, dependemos de outras pessoas para realizar o sonho de abrir aquele pacote e desfazer o laço.

Na fase adulta, nos presenteamos com o objetivo de comprar algo que, muitas vezes, nem precisamos, só para ter o gostinho de dizer "eu posso comprar", no pior dos casos, mesmo não podendo e se afundando em mais uma dívida, pensamos "ah, eu mereço".

Se você faz parte do segundo grupo, caro amigo, sinto em informar, mas estás fazendo isso errado.

Já passou pela sua cabeça que vivemos pensando em acumular bens materiais? Passamos anos da vida planejando ter x e quando o x finalmente chega, queremos o y, uma vez que o x já não nos basta mais.

Quando uma coisa é conquistada, outra vem logo em seguida para nos manter numa montanha-russa sem fim se considerarmos que o "ter" é passageiro e podemos perder o seu controle.

Portanto, você está feliz no lugar que ocupa na sua própria vida? Foi isso que planejastes aos 22 anos?

E não estou falando de profissões, cargos, empresas, contas bancárias. Quando decidimos o que queremos fazer profissionalmente significa que estaremos assim por um determinado tempo.

Quando somos o que queremos ser, é a essência humana aflorando em nós, é o que nos define e liberta, o que nos identifica. E, geralmente, a felicidade vem deste propósito.

Portanto, antes de adquirir mais um boleto, pense se esse consumo é o que realmente lhe fará feliz ou se é somente uma forma de conforto.

O consumo consciente gera saúde financeira e acalma a mente durante a noite. Armários cheios não movem propósitos de vida.

Para você que está lendo, desejo que todo boleto pago vire paz interior.

Mas, me conte: Qual presente de Natal marcou a sua infância?

P.S.: Ainda tenho o meu patinete.

 

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