BRIANE MACHADO
A chave

Talvez você não lembre como foi o seu ano em 2010, mas, em 2030 lembrará como foi o seu ano em 2020.
Costumamos deixar passar as lembranças que não têm tanto significado ou os anos em que "nada demais" aconteceu.
Esse "nada demais" se assemelha à rotina, ao fato de vivermos 12 meses fazendo as mesmas coisas, sem muitas novidades ou infortúnios para nos tirar do eixo. Entretanto, esse cotidiano quase sem alterações é o que nos faz falta em 2020.
Lembro que nada virada do ano eu pensei: Nossa! 2020 será o ano!
E foi. Só que eu não imaginava qual seria o sentido de "O" ano.
Em março, já nos encontrávamos reclusos em casa, em uma quarentena desconhecida, com um vírus desconhecido circulando o mundo e sem deixar saída.
A dúvida se instalou em cada um de nós e, hoje, é um misto de "será que já está acabando?" com "a vacina está chegando".
Temos esperança e medo ao mesmo tempo. Continuamos na espera. Ainda temos dúvidas.
Para cada um de nós em todos esses dias, acredito que seja dormir com medo e acordar aliviado por não ser mais uma vítima, por ter a família completa, por estar bem.
Todos nós tínhamos os melhores planos na virada do ano e eles foram frustrados de maneira que perdemos o rumo. Estranhamente, todos esses planos eram baseados em carreira, dinheiro e relacionamentos, entretanto, não colocávamos a resiliência em nenhuma dessas listas. Quando o furacão se formou, não sabíamos onde deveríamos nos segurar.
Não planejamos a vida contando com percalços, ou seja, quando colocamos uma meta na cabeça e decidimos concretizá-la, imaginamos que o caminho será uma linha reta, que não haverá dificuldades, que a jornada será uma estrada com flores em ambos os lados. E, então, surge a tendência que nós, seres humanos, temos de nos frustrarmos quando algo não sai como o planejado - em nossas próprias mentes.
Esquecemos que não depende somente de nós, que o mundo é uma roda gigante, que a vida é feita de altos e baixos, que a estrada tem curvas, desníveis e buracos, que podemos furar um pneu ou o combustível pode acabar.
A resiliência é o que nos falta e só percebemos quando um teste de fogo como este que estamos vivendo nos é apresentado. Sem aviso prévio, sem conhecimento, sem preparo, sem nada.
O próximo ano está chegando, mas o vírus não irá embora durante a contagem regressiva. Continuaremos usando máscaras, evitando aglomerações, longe de quem amamos, fazendo estoque de álcool em gel e esperando, pacientemente, que a vacina chegue até nós.
Pouco a pouco os planos sairão do estacionamento e o medo começará a se dissipar.
Talvez seja de bom tom acrescentar resiliência na listinha de 2021. Não custa lembrar que foi ela que girou a chave.
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