URUGUAIANA JN PREVISÃO

BRIANE MACHADO

Mais amor e menos uvas passas

Quando dezembro se aproxima, automaticamente, pensamos nas festas do final de ano.

Natal e Ano Novo são tidos por muitos como encerramentos de ciclos e abertura de novos portais para que a prosperidade e a esperança de dias melhores venham até nós.

Mas, estamos falando de um ano diferente.

Não teremos uma mesa enorme ornamentada por inúmeros quitutes, nem presentes debaixo da árvore tão bem decorada. As luzes de Natal piscarão mais tristes nesse dezembro.

E, talvez, esse seja o divisor de águas que tanto precisávamos para darmos valor ao que realmente importa.

Quando chega novembro, já começamos a pensar desvairadamente nos presentes que "precisamos" comprar para fulano, beltrano e sicrana. Nem que seja a famosa lembrancinha. Enfrentamos filas nas lojas, aquele empurra-empurra e uma correria sem fim para conseguir aquela promoção, sem falar no calor desértico que faz aqui na região da fronteira oeste.

Missão (quase) impossível.

Há grupos de famílias no WhatsApp em que todo ano começa o bombardeio de quem vai levar o que para a ceia de Natal.

Maria leva o Peru; Regina a sobremesa; Everaldo fica responsável pela bebida. Mas e quem leva a farofa?

Chegado o dia, todos estão com o cansaço estampado no rosto, dias de correria em supermercado, de faxinas nas casas, de tirar todos os enfeites natalinos que foram embalados e guardados em uma caixa no depósito.

Mas será que precisamos de tudo isso para comemorar mais uma passagem de ano?

Em 2020, muitos de nós não terá a possibilidade de abraçar quem ama, de estar perto para comentar sobre a farofa que faltou na ceia, de ver os seus pais e irmãos reunidos em volta da mesa ornamentada com a toalha de Papai Noel.

A distância, mais do que nunca, se faz necessária. Precisamos estar longe para nos mantermos seguros e essa é a maior contradição existente entre pais, filhos e netos.

Muitas pessoas estarão presentes somente na memória, no lugar vago à mesa, no armário com a roupa de festa, na lembrança de que gostava de rabanada e esperava o ano todo para encontra-la.

Bebidas ficaram guardadas no armário para essa ocasião especial, planos de comprar um presente especial para o neto não saíram do pensamento.

Diante de tudo que estamos passando, um cá e outro lá, me pergunto se existe alguma coisa pior do que não estar ao lado de quem se ama. Se é possível superar uma perda inesperada para algo que chegou roubando o que nos é mais precioso.

Acredito que, para muitos, a ficha caiu.

Não precisamos de uma mesa farta com alimentos que sobrarão para a semana inteira; não precisamos da bebida mais cara e da decoração mais bonita.

Antes, a maioria de nós não tinha condições financeiras de fazer uma ceia natalina. Milhares de famílias não esperam a meia-noite acordados por não ter como agradar os seus filhos como gostariam.

Hoje, estamos impossibilitados de estarmos com quem amamos por um vírus microscópico que arrasou o mundo.

Amanhã, teremos a capacidade de raciocinarmos sobre o que realmente é importante para cada um de nós.

Tenho a plena convicção de que a grande maioria vai preferir cear sanduíche e suco, mas ter a família inteira reunida.

Que sejamos mais gratos, mais complacentes, mais humanos, menos egoístas.

Valorize os bons momentos. Eles passam.

E por falar nisso, sinto que as uvas passas darão uma folga neste Natal.

Tudo passa.  

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