6 em cada 10 brasileiros conhecem uma mulher estuprada na infância, diz pesquisa
Instituto Patrícia Galvão
6 em cada 10 brasileiros conhecem uma mulher estuprada na infância, diz pesquisa

Ilustração/Pexels. - A maioria das meninas vítimas é violentada dentro de casa e por pessoas próximas, aponta o levantamento.
Casos de estupro contra meninas e mulheres são uma realidade próxima da maioria da população brasileira. Segundo pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva, seis em cada 10 brasileiros conhecem uma mulher que foi vítima de estupro quando tinha até 13 anos. O estudo, intitulado “Percepções sobre direitos de meninas e mulheres grávidas pós-estupro 2025”, revela dados contundentes sobre a violência sexual e a resposta social a esses crimes.
O levantamento mostra que 59% dos entrevistados conhecem alguma mulher que foi estuprada ainda na infância e 56% conhecem alguma mulher que sofreu violência sexual a partir dos 14 anos. Além disso, 15% das mulheres afirmaram já ter sido vítimas de estupro, o que representa cerca de 12,9 milhões de brasileiras. Entre essas, 12% sofreram a violência antes dos 13 anos, o equivalente a 10,4 milhões de meninas.
A percepção dos entrevistados aponta que a maioria das meninas estupradas são agredidas dentro de casa e por parentes próximos. O estudo também destaca que 57% das vítimas que sofreram estupro antes dos 13 anos não contaram a ninguém sobre o ocorrido, revelando a persistência do medo, da vergonha e da falta de redes de apoio.
Apenas 15% das vítimas menores de 13 anos e 11% das com 14 anos ou mais procuraram a polícia após o crime. A busca por atendimento de saúde também é baixa: apenas 9% e 14%, respectivamente, tiveram algum tipo de assistência médica.
Uruguaiana: subnotificação e casos recorrentes
Em Uruguaiana, os dados do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) indicam que a cidade segue a tendência nacional de subnotificação, embora os registros mostrem que os casos vêm sendo acompanhados ao longo dos últimos cinco anos.
Entre 2020 e 2025, o Creas registrou ocorrências anuais de abuso sexual contra meninas e meninos, com maior incidência nas faixas etárias entre 7 e 17 anos. Em 2023, por exemplo, foram registrados mais de 20 atendimentos de abuso sexual, sendo a maioria envolvendo vítimas do sexo feminino.
Já em 2025, até o mês de agosto, o Creas contabiliza novos casos em todas as faixas etárias, incluindo crianças de até seis anos.
A delegada titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Uruguaiana, Caroline Huber, destaca que o medo e a vergonha ainda são barreiras decisivas para o silêncio das vítimas.
“De modo geral, a principal barreira que identificamos para a subnotificação ainda é o medo e a vergonha das vítimas, especialmente quando o agressor é alguém próximo. Por isso, temos trabalhado constantemente na humanização do atendimento, na capacitação das equipes e em ações educativas junto à comunidade, com o objetivo de fortalecer a confiança na Deam e garantir que mulheres e famílias se sintam acolhidas para registrar a ocorrência”, explicou.
A delegada também ressalta que a pesquisa nacional reforça a importância de políticas públicas voltadas à prevenção e à responsabilização dos agressores. “Os dados refletem uma realidade triste, mas que reforça a necessidade de um trabalho contínuo de prevenção, acolhimento e responsabilização. É fundamental que a sociedade entenda que denunciar é o primeiro passo para romper o ciclo da violência”, conclui.
Gravidez decorrente de estupro
A pesquisa também evidencia as consequências da violência sexual. Entre as entrevistadas vítimas de estupro, 8% engravidaram, o que representa cerca de 1 milhão de mulheres. Além disso, 22% da população afirmam conhecer uma vítima que engravidou após o estupro.
Entre as meninas de até 13 anos, metade das gestações decorrentes da violência não foi interrompida, revelando o impacto da falta de acesso à informação e aos serviços de saúde. Apesar disso, o levantamento aponta que a maioria da população defende o direito das vítimas de interromper legalmente a gravidez pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
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