Violência
OMS aponta que 840 milhões de mulheres no mundo foram alvo de violência
Ilustração/iStock - O Brasil aparece em 5º lugar entre países lusófonos na violência cometida por parceiros e lidera nos casos praticados por não parceiros.
Um novo levantamento global da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado nesta terça-feira, 25/11, em comemoração ao Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, revela um cenário alarmante e praticamente inalterado desde o início do século. Quase 840 milhões de mulheres, cerca de um terço da população feminina mundial, já enfrentaram algum tipo de violência física ou sexual ao longo da vida.
A análise mostra que, somente no último ano, 316 milhões de mulheres com 15 anos ou mais foram agredidas por parceiros íntimos, o que representa 11% desse grupo etário. Segundo a OMS, o ritmo de redução dessas agressões avança de forma extremamente lenta: a queda média tem sido de apenas 0,2% ao ano nas últimas duas décadas, um progresso considerado insuficiente diante da dimensão do problema.
Pela primeira vez, o estudo incorpora estimativas nacionais e regionais sobre violência sexual praticada por pessoas fora do círculo íntimo. Esse tipo de agressão atinge 263 milhões de mulheres, embora especialistas alertem que o número real deve ser substancialmente maior, devido ao medo de denunciar e ao estigma social que silencia sobreviventes.
O relatório evidencia que mulheres expostas a violência enfrentam maiores riscos de gravidez não planejada, infecções sexualmente transmissíveis e transtornos mentais, como depressão. Os serviços de saúde sexual e reprodutiva, segundo a Organização, são portas de entrada essenciais para cuidados qualificados às sobreviventes.
A violência também se manifesta cedo. Nos últimos 12 meses, 12,5 milhões de adolescentes de 15 a 19 anos, o equivalente a 16% da faixa etária, sofreram violência física ou sexual por parte de parceiros.
Países de língua portuguesa
Os dados da OMS evidenciam fortes contrastes entre os países de língua portuguesa no que diz respeito à violência contra mulheres. Timor-Leste apresenta a maior prevalência de agressões cometidas por parceiros ao longo da vida, com 41,7% das mulheres afetadas, seguido de Angola, com 33,9%. Na sequência aparecem São Tomé e Príncipe (30,4%), Moçambique (24,4%), Brasil (19,3%), quinto colocado entre os lusófonos, e Cabo Verde (17,3%), todos com índices considerados elevados. Portugal registra a menor taxa, com 9,8%.
Quando a violência é praticada por agressores que não são parceiros, os percentuais diminuem, mas continuam alarmantes. O Brasil lidera entre os lusófonos, com 6,4%, seguido de Portugal (5%) e São Tomé e Príncipe (2,9%). Já Angola, Moçambique e Timor-Leste apresentam índices mais baixos, variando entre 1,5% e 2,1%.
Ainda que a violência contra mulheres ocorra em todas as regiões do mundo, os números são mais elevados em países com menor desenvolvimento econômico, áreas de conflito ou regiões afetadas por eventos climáticos extremos. Na Oceania, excluindo Austrália e Nova Zelândia, a taxa de violência exercida por parceiros íntimos chegou a 38% no último ano, mais de três vezes a média mundial de 11%.
Falta de financiamento
Além da magnitude da violência, a OMS chama atenção para a redução drástica de recursos destinados à prevenção. Em 2022, apenas 0,2% da ajuda internacional para o desenvolvimento foi direcionada a iniciativas de enfrentamento da violência contra mulheres, e em 2024 houve nova queda.
O relatório, que reúne dados coletados entre 2000 e 2023 em 168 países, alerta para o agravamento do quadro em meio às desigualdades sociais, instabilidade política e impactos de novas tecnologias. Em contextos de guerra, a violência sexual continua sendo usada como arma, intensificando traumas e deslocamentos.
Para reverter o impacto estrutural da violência de gênero, a Organização Mundial da Saúde defende uma resposta articulada entre governos, instituições e sociedade civil, com foco em: expandir programas de prevenção baseados em evidências científicas, fortalecer serviços de saúde, justiça e assistência social com abordagem centrada nas sobreviventes, investir em sistemas de dados que permitam monitorar e alcançar grupos vulneráveis e garantir leis eficazes que promovam a autonomia e a proteção de mulheres e meninas.
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