Cátia Liczbinski
COP30: O BRASIL ENTRE O DISCURSO AMBIENTAL E A PERFURAÇÃO
Esta semana teve início em Belém do Pará a COP30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, colocando o Brasil no centro do debate climático global. Pela primeira vez, o país recebe na Amazônia esse encontro histórico, que ocorre em meio a inúmeras questões polêmicas envolvendo a proteção ambiental e decisões recentes altamente questionáveis.
Neste momento tão importante, o Brasil que defende a Amazônia enfrenta graves críticas pelo fato de, em outubro de 2025, o Ibama ter concedido à Petrobras licença para perfuração no bloco FZA-M-059, na Bacia da Foz do Amazonas. A licença, publicada pelo Ibama, autoriza a Petrobras a perfurar um poço exploratório localizado a cerca de 175 km da costa do Amapá, em águas profundas. A própria estatal informou que não há produção de petróleo nesta fase, mas trata-se de uma perfuração exploratória, com duração aproximada de cinco meses, para obter dados geológicos e avaliar se existe petróleo ou gás em volume economicamente viável (Agência Brasil).
O governo defende que a medida visa gerar recursos para financiar a transição energética e programas sociais — argumento que, para especialistas e ambientalistas, é contraditório: o país lidera a conferência defendendo o meio ambiente e a Amazônia enquanto abre uma nova fronteira de petróleo na região (IntelliNews, outubro de 2025).
Líderes indígenas alertaram para os riscos à biodiversidade e às comunidades tradicionais, e ambientalistas internacionais consideram o caso um retrocesso climático. Apesar da pouca divulgação nacional sobre a autorização do Ibama, a imprensa estrangeira tem destacado o “duplo discurso brasileiro”: um país que cobra metas mais ambiciosas do Norte Global, mas amplia suas próprias emissões com novos projetos fósseis (InfoAmazonia, outubro de 2025).
Organizações ambientais, como Greenpeace Brasil e Observatório do Clima, também se manifestaram contra a licença, apontando “ilegalidades e falhas técnicas” no processo de licenciamento. O WWF Brasil, que participou de uma ação judicial junto a outras ONGs para suspender a autorização, aparece entre os signatários da petição (Observatório do Clima+), repercutida pela mídia nacional e internacional.
Outro ponto sensível é a escolha de Belém para sediar a COP30. A cidade passou por obras de adequação para receber o evento, mas, a poucos dias da abertura, ainda sofre com a falta de infraestrutura e preços abusivos de hospedagem — fatores que afastam representantes de países pobres e movimentos sociais, justamente aqueles que mais deveriam ter voz em um encontro sobre justiça climática.
A COP30 começa, portanto, com o Brasil no centro do mundo — não apenas como anfitrião, mas como exemplo a ser testado. Em Belém, o discurso sobre sustentabilidade se equilibrará entre o verde das florestas e o cheiro do petróleo recém-autorizado. A contradição é gritante: enquanto o planeta clama por coerência e ação, o país que guarda a Amazônia parece dividido entre a retórica ambiental e a tentação econômica. O desafio não é apenas político, é ético e civilizatório. Se o Brasil deseja liderar o futuro climático, precisará provar que sua voz em defesa da floresta não se perde no barulho das perfurações.

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