Quando o Objeto Substitui o Vínculo: Reborns, Mulheres e o Papel Social do Cuidado
Especial 179 anos
Uruguaiana, um município com sangue farrapo

Eduardo Rocha - Uruguaiana carrega em sua origem um papel singular na história do Brasil: é a única cidade fundada oficialmente durante a Revolução Farroupilha
Nas margens do rio Uruguai, Uruguaiana carrega em sua origem um papel singular na história do Brasil: é a única cidade fundada oficialmente durante a Revolução Farroupilha (1835–1845). Seu nascimento está intimamente ligado a disputas territoriais, à ocupação jesuítica, ao contrabando na região e à necessidade de controle fiscal e militar por parte do Império.
Para marcar os 179 anos de emancipação política do município, celebrados nesta quinta-feira, 29/5, o CIDADE preparou uma linha do tempo histórica do município que conecta culturas, foi concebida em meio a uma revolução e hoje é a cidade mais populosa da fronteira oeste gaúcha.
Origens
Desde o século XVII, os jesuítas já reconheciam a importância estratégica da região, estabelecendo postos de pastoreio e capelas nos arredores do que viria a ser o Porto de Santa Ana. O local, junto ao arroio Guarapuitã, tornou-se um dos principais pontos de travessia do rio Uruguai, sendo usado tanto por missões religiosas quanto por índios charruas e tropeiros.
Após a expulsão dos jesuítas em 1768, o porto foi abandonado, mas sua relevância persistiu. No início do século XIX, o avanço da fronteira e o aumento das tensões entre portugueses e espanhóis reacenderam o interesse pela região. A Coroa Portuguesa distribuiu sesmarias para consolidar a ocupação e estabelecer bases defensivas.
Em 1815, o Tenente-Coronel Antônio dos Santos Menezes recebeu uma sesmaria no “Rincão de Santana”, fundando uma estância que serviu como trincheira militar. Pouco depois, em 1816, o caudilho José Gervásio Artigas atravessou o Passo de Santana com 8 mil homens, em uma ofensiva contra São Borja.
Revolução Farroupilha
A partir de 1838, em plena Revolução Farroupilha, os farrapos reconheceram o valor da posição geográfica da então chamada Santana do Uruguai (ou Santana Velha) e instalaram ali uma base com coletoria, porto e alojamentos. O local tornou-se um ponto de fiscalização de embarcações, carretas e tropas, além de servir como centro logístico para as forças farroupilhas.
Entretanto, inundações constantes e a insegurança provocada por salteadores forçaram a mudança de local. Em 1840, por iniciativa do ministro Domingos José de Almeida, o povoado foi transferido para uma área mais segura, na estância de Manoel Joaquim do Couto, no Capão do Tigre — onde hoje está o centro de Uruguaiana. Domingos de Almeida é, por isso, considerado o fundador oficial da cidade.
Emancipação e planejamento
A consolidação do novo povoado foi rápida: em 1843 foi criada a Capela do Uruguai, e, em 1846, a localidade foi elevada à categoria de Vila, desmembrando-se de Alegrete, o que marca a emancipação política do município. Pouco depois, recebeu o nome de Uruguaiana — uma junção do nome do rio Uruguai com Ana, em referência a Nossa Senhora de Santana, padroeira da cidade. A elevação à condição de cidade veio em 6 de abril de 1874.
Uruguaiana não só se destacou por sua origem singular, como também por ser uma das poucas cidades brasileiras do século XIX com um plano urbanístico prévio. Sua fundação visava fomentar o comércio fluvial com Buenos Aires e Montevidéu, além de assegurar a presença brasileira em uma região de constantes disputas.
Hoje, a história de Uruguaiana está gravada não apenas em seus monumentos e tradições, mas também no seu papel contínuo como elo cultural, econômico e simbólico entre o Brasil, Argentina e Uruguai.
Deixe seu comentário