20 de junho
Incêndio na Casinha da Emília completa 25 anos

Reprodução/Gabriela Barcellos/JC - Incêndio destruiu a sala e matou 12 crianças de 2 e 3 anos, no dia 20 de junho de 2000
O dia mais frio do ano em Uruguaiana em 2000 se tornou ainda mais frio durante a tarde, quando pais, avós, irmãos, vizinhos corriam para a frente da escola infantil Casinha da Emília diante das primeiras informações de que um incêndio no local. A fumaça saída da sala do maternal 2 da escola subiu aos céus, espalhando o desespero. À época, a escola atendia a 117 alunos.
Do lado de fora, familiares eram contidos por policiais militares, ainda sem informações sobre a gravidade daquela que seria a maior tragédia registrada em Uruguaiana. Sozinhas e trancadas em uma sala, doze crianças de 2 e 3 anos morreram. A lista de vítimas foi divulgada apenas à noite.
Era início da tarde e as crianças estavam na hora da soneca. O incêndio se originou em uma estufa, ligada dento da sala 3 do Material II. O fogo se espalhou rapidamente pelos colchões e cobertores dispostos no chão, onde as crianças dormiam. Elas estavam sozinhas. Por ordem da diretora da creche, as duas estagiarias que deveram estar tomando conta os pequenos saíram da creche para recolher doações para uma festa junina que seria realizada na escola no fim de semana seguinte.
Ao todo, 18 funcionários da creche estavam no local no momento do incêndio. A diretora foi retirada do local por familiares, diante da consternação e revolta de populares.
Funcionários da escola municipal Lilia Guimarães, ao lado da creche, foram os primeiros a tentar apagar o fogo, enquanto o Corpo de Bombeiros era chamado. “Nos avisaram do fogo e em seguida uma explosão arrebentou o teto da sala”, disse ao CIDADE, naquele dia, a professora Lourdes Peres. Logo em seguida, a maior parte das crianças foi vista saindo da creche, muitas delas descalças. “A partir daí tivemos que ajudar a apagar o fogo, com extintores e baldes d’água”, relatou.
O trabalho do Instituto Geral de Perícias (IGP) no local começou por volta de 20h, aos cuidados dos peritos Ruy Braescher Filho e colega Katia Aparecida Kuiawinki e o fotógrafo criminalístico Antônio Carlos Ribeiro. Foi, segundo Ruy, “a experiência mais traumática da minha vida”. Nem o incêndio da boate Kiss, anos mais tarde, impressionaria tanto o engenheiro civil. “Aquilo me marcou porque eram crianças”, explica ele.
O laudo foi entregue à Polícia Civil sete dias depois da tragédia, e apontou que um aquecedor de ambiente deu início ao fogo. “Havia muita desconfiança de que a porta de madeira que dava acesso à sala estivesse chaveada. Analisamos o material e concluímos que quando o incêndio começou ela já estava dilatada por causa da temperatura e da umidade relativa do ar, mas não com chave, o que impediria a abertura”, relembra o Perito.
À época, o Instituto Geral de Perícias (IGP) confirmou que uma peça de roupa caiu sobre a estufa, dando início ao fogo. Ficou constatado que a sala 3 do Maternal II tinha pouco oxigênio e com o acidente da estufa ocorreu a combustão. O laudo também apontou que quando o fogo chegou às crianças, elas já estavam em estado semi-inconsciente, não tinham noção do que estava acontecendo devido ao excesso de monóxido de carbono. Elas não sentiram dor. Algumas delas foram encontradas abraçadas, no canto da sala, do lado oposto ao início do fogo.
As vítimas
As 12 crianças que perderam a vida naquele triste dia estão enterradas no Cemitério Municipal Senhora Sant’Ana. São elas:
Márcia Elisabeth Flores Gonçalves, 3 anos, filha de José Valdecir Gonçalves e Carla Rosélia Flores Gonçalves;
Giovani Camargo da Rosa Filho, 2 anos, filho de Giovani Camargo da Rosa e Marion Cristina Bittencourt Rodrigues;
Luana Fernandes Oliveira, 2 anos, filha de Edson Miguel Braseiro Oliveira e Valdirene Rosângela Fernandes Oliveira;
Carlos Miguel de Souza Miranda, 3 anos, filho de Jorge Augusto de Souza Miranda e Isabel Cristina Serrano de Souza;
Nattiele Montanha Sant’Ana, 2 anos, filha de Itamar Resende Sant’Ana e Cleni dos Santos Montanha Sant’Ana;
João Fernandes Prates da Silva, 3 anos, filho de Auri Pires da Silva e Sandra Müller Prates da Silva;
Kethellen Karlyni Alfaro Priatrowsky, 3 anos, filha de David Gilberto Priatrowsky e Liz Andréa Alfaro Priatrowsky;
Michael Leonardo da Silva de Freitas, 3 anos, filho de Valdecir Ferrador de Freitas e Maria Cândida Gonçalves da Silva;
Ruggieri Ferreira Poitevin, 3 anos, filho de Vladimir dos Santos Poitevin e Denise de Almeida Ferreira;
Tassiani Rodrigues Batu, 3 anos, filha de Roberto Apestegui Batu e Santa Martha Canto Rodrigues;
Paola da Silva dos Santos, 2 anos, filha de Íris César dos Santos e Santa Margarida da Silva;
Andrielli Marques de Moura, 3 anos, filha de Héber Jesus Abreu de Moura e Roselaine Marques de Moura.
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