levantamento
Quatro em casa dez mulheres já sofreram violência doméstica

Ilustração/Pexels - Pesquisa revela que 36% das brasileiras já enfrentaram agressões, enquanto apenas 6% dos homens admitem ser agressores. A maioria da população cobra punições mais duras e apoio efetivo do Estado.
Quase quatro em cada dez brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica. Seja física, psicológica, sexual ou patrimonial, a agressão é uma realidade que atinge 36% das mulheres do país. Ainda assim, poucos homens admitem o papel de agressores - apenas 6% reconhecem ter cometido violência contra suas companheiras.
Os dados integram a pesquisa Redes de apoio e Saídas Institucionais para mulheres em situação de violência doméstica, conduzida pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com a Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) e o Instituto Beja. O estudo entrevistou, por telefone, 1.200 pessoas de diversas idades, regiões e classes sociais, com o objetivo de compreender percepções sobre o problema e avaliar os caminhos de enfrentamento.
O levantamento mostra que a sociedade brasileira enxerga a violência doméstica como um tema urgente. Para 95% dos entrevistados, é fundamental tornar as punições mais rigorosas contra os agressores. Ao mesmo tempo, a sensação de impunidade é expressiva: 85% acreditam que muitos homens continuam violentos por terem certeza de que não sofrerão consequências.
Entre os que conhecem pessoalmente uma mulher que sofreu agressão, a principal reação de 63% das mulheres e 50% dos homens foi a de falar com a vítima. Conversar com o agressor foi mais frequente entre os homens (24%) do que entre as mulheres (13%).
A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, é amplamente conhecida. Mas, na prática, a aplicação efetiva ainda enfrenta obstáculos. Essa percepção também está refletida nos números: 72% dos entrevistados acreditam que muitos policiais não levam as denúncias a sério.
Apoio é decisivo, mas nem sempre chega
Os gráficos da pesquisa revelam que o suporte afetivo e institucional é apontado como pilares para que a mulher consiga deixar uma situação de violência. O acolhimento de familiares e amigos foi mencionado por 58% dos participantes, sendo uma necessidade destacada principalmente por mulheres (61%). O auxílio do Estado – tanto policial e jurídico, quanto psicossocial – também aparece como prioridade, citado por cerca de metade dos entrevistados.
Outros aspectos, como autonomia financeira e fortalecimento da autoestima, também foram destacados. Entre as mulheres, 33% ressaltaram a importância do resgate da autoconfiança (nove pontos percentuais a mais que os homens). Além disso, elas mencionaram em maior proporção a necessidade de informações claras sobre como sair de uma relação violenta.
Observe alguns dados detalhados: entre as mulheres entrevistadas, 61% destacaram que o apoio e o acolhimento de familiares e amigos são fundamentais para conseguir sair de uma situação de violência. Já 53% apontaram que a proteção oferecida pelo Estado, por meio da polícia e da Justiça, é igualmente importante. Além disso, 47% mencionaram a necessidade de assistência social e acompanhamento psicológico.
Para 42%, o empoderamento econômico, que possibilita independência financeira em relação ao agressor, foi citado como um fator decisivo. O fortalecimento da autoestima apareceu como prioridade para 33% das mulheres, enquanto 24% ressaltaram a importância de receber orientações claras sobre como romper com uma relação violenta.
Melhoria do atendimento público
Quando questionados sobre formas de aprimorar o apoio governamental, praticamente todos os entrevistados concordaram que são necessárias medidas urgentes. Entre elas, garantir proteção efetiva para quem denuncia (99%), acelerar investigações (99%) e treinar equipes que lidam com as vítimas (98%). Outros pontos mencionados incluem: qualificar profissionais de saúde e assistência social para identificar e orientar casos (98%) e melhorar o funcionamento das delegacias comuns (97%)
A própria Maria da Penha Fernandes, que dá nome à lei, reforça que a existência dos direitos não basta se o Estado não disponibilizar serviços de acolhimento. “A mulher já sabe que pode denunciar. Mas falta o serviço que mostre como fazer isso de forma segura e eficaz”, pontua.
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