VACA MUERTA
Brasil e Argentina assinam acordo para importação de gás natural de Vaca Muerta
Fabiana Frayssinet imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Usina de Vaca Muerta, na Agentina, deve exportar gás de xisto para o Brasil
por Fredo Tarausk
Nesta segunda-feira, 18/11, o Brasil e a Argentina firmaram um Memorando de Entendimento (MoU) que marca o início de uma parceria estratégica para a importação de gás natural proveniente do campo de Vaca Muerta, na Argentina. O acordo foi assinado pelo ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, e cria as condições para o desenvolvimento de infraestrutura e interconexão necessária para viabilizar a comercialização do combustível entre os dois países.
O memorando, que foi formalizado durante a reunião dos chefes de Estado do G20 no Rio de Janeiro, visa estabelecer um grupo de trabalho conjunto para analisar e implementar as medidas necessárias para garantir o fornecimento de gás natural argentino, especialmente do promissor campo de Vaca Muerta.
Com essa abertura de mercado, o governo brasileiro espera atrair novos investimentos e, ao mesmo tempo, contribuir para a redução dos preços de energia e até dos alimentos, uma vez que o gás natural argentino apresenta um custo mais competitivo, estimado entre US$ 7 e US$ 8 por milhão de BTU (British Thermal Unit, unidade usada para medir a quantidade de calor).
O documento ainda não crava qual será a rota de chegada do gás da Argentina para o Brasil, mas estabelece que há cinco possibilidades: inversão do Gasbol (Gasoduto Bolívia-Brasil), via Bolívia; via Paraguai, construindo um gasoduto novo pelo Chaco Paraguaio; ligando a Argentina direto em Uruguaiana; ligando com o Rio Grande do Sul pelo Uruguai; transformar o gás em GNL (gás natural liquefeito) para transportar por navio ou caminhões.
Potencial de Vaca Muerta e o papel de Uruguaiana
O gás natural do campo de Vaca Muerta, localizado na província de Neuquén, na Patagônia, é classificado como gás não convencional, o que significa que é extraído de xisto. Considerada a segunda maior reserva mundial de gás não convencional e a quarta maior de petróleo dessa origem, Vaca Muerta tem se tornado uma das maiores promessas para o setor energético da Argentina e para o mercado global.
A viabilização do fornecimento desse gás ao Brasil passa pela utilização de infraestruturas já existentes, como o Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), que possui capacidade ociosa devido à queda na produção boliviana. O plano do governo brasileiro inclui a adaptação do Gasbol para permitir o fluxo bidirecional de gás, com destaque para a construção de um novo ramal entre Uruguaiana e Porto Alegre, o que facilitaria a entrada do gás argentino no Brasil. Uruguaiana é apontada como um ponto estratégico nessa integração energética.
Desafios e perspectivas de financiamento
Para que esse projeto de integração energética se concretize, o Brasil e a Argentina enfrentam desafios financeiros e logísticos. O governo argentino precisa de um financiamento de aproximadamente US$ 689 milhões para a construção do segundo trecho do Gasoduto Néstor Kirchner, que ampliará a capacidade de escoamento do gás de Vaca Muerta. Durante sua visita a Buenos Aires em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o Brasil criaria as condições necessárias para financiar esse trecho por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A perspectiva é que a construção de novos gasodutos e a adaptação das infraestruturas existentes possam levar a uma maior integração entre os mercados de gás natural da Argentina e do Brasil, beneficiando ambos os países. O governo brasileiro espera que, com o fornecimento de gás mais barato, a competitividade da indústria nacional seja fortalecida e que o custo de vida seja reduzido.
A reaproximação entre os dois países
O Memorando de Entendimento assinado nesta segunda-feira reforça a crescente reaproximação entre Brasil e Argentina, que já buscam, desde a década de 1990, implementar um projeto de integração energética através da construção de um gasoduto ligando os dois países. Embora esse projeto tenha sido interrompido em diversas ocasiões, principalmente devido ao declínio da produção de gás argentino, a nova realidade das reservas de Vaca Muerta reacende as perspectivas de uma parceria sólida no setor energético.
Com um aumento gradual da oferta de gás para o Brasil, a expectativa é que, até 2030, a Argentina possa exportar até 30 milhões de metros cúbicos de gás por dia, consolidando-se como um fornecedor estratégico para o mercado brasileiro e ampliando a integração energética entre os países vizinhos.
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