URUGUAIANA JN PREVISÃO

Briane Machado

Quando falávamos em crescimento

"Os números no Brasil não param de aumentar". Essa frase pode ser ouvida várias vezes durante um único dia em qualquer programa de televisão ou rádio. Também, podemos lê-la em jornais, revistas, postagens em redes sociais.
Há alguns anos, ouvir essa frase seria motivo de comemoração para o brasileiro. Torcíamos para que os números no Brasil crescessem de maneira que fosse noticiado pelo mundo a fora.
Queríamos - e continuamos querendo - o aumento do salário mínimo, das crianças matriculadas em escolas, do número de universidades públicas, de empregados celetistas, de imóveis adquiridos.
Gostaríamos que os números da desigualdade social diminuíssem; que reduzíssemos a zero o número de vítimas de violência.
Infelizmente, viramos estatísticas. E o que mais temíamos aconteceu: a população passou a ser vista como uma bomba-relógio. Não nos é permitido gozar da liberdade. Estamos cerceados e o perigo iminente impregnou em cada um de nós.
Passamos a lastrear a ameaça mundial. Temos em quantidade absurda aquilo que é defenestrado.
No início, pensamos que essa fase mostraria e nos permitiria reanalisar as condutas humanas, os gestos, os atos, os pensamentos, as crenças, os hábitos, os costumes.
Por alguns meses, tínhamos a percepção que sairíamos da turbulência mais empáticos, solidários. Porém, não é isso que estamos vendo.
Ouvi de muitas pessoas que estão cansadas, exaustas. Que máscara não resolve, álcool em gel é bobagem e a frase mais incompreensível de todas: "Quem tiver que pegar, vai pegar!".
Como se estivesse pré-determinado quem será "contemplado" com o desespero.
Mas, confesso que a conduta da negação de muitos é mais cansativa do que cuidar a máscara, o álcool em gel e lavar todas as compras que chegam do supermercado.
É, extremamente, cansativo ter que visualizar, dia após dia, notícias de festas clandestinas, de descumprimento de orientações, de validação de medidas nunca testadas cientificamente.
Consequentemente, doi.
Parece que algumas pessoas se colocaram em pedestal inatingível, em que nada acontece, onde os danos são suprimidos. Afinal, nada acontece se não tem que acontecer - uma crença limitante que vem reduzindo famílias.
Diferentemente do que imaginávamos, o egoísmo impera. Nem todos têm consciência de que deixar de fazer um evento, um almoço para reunir amigos ou uma viagem de férias é uma das medidas adequadas para salvar vidas e evitar o colapso da saúde pública.
Estamos todos exaustos. Não temos mais formas de manter a saúde emocional intacta. Diariamente, somos abalados, sacudidos, descemos e subimos, uma montanha-russa infinita dos mais diversos sentimentos.
Enquanto uma pessoa faz o impossível para ajudar, dez fazem o possível para corromper. Não há equilíbrio, não temos como colocarmos na balança sem que não sejamos prejudicados.
E os números não param de aumentar. Estamos desenfreados. Somos ameaçadores.
E até quando seremos capazes de taparmos os buracos deste navio?
Talvez, se começássemos por evitar a circulação de pessoas, o vírus pare de circular também.
Hoje, mais do que nunca, a liberdade, o direito de ir e vir são valorizados como a supremacia das vontades humanas.
Um dia voltaremos a tê-los.

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