URUGUAIANA JN PREVISÃO

Briane Machado

Mulheres fortalezas

Toda vez que uma mulher é vítima de violência doméstica e/ou feminicídio, o restante de nós se sente sem cor, sem vida.
A cada dois minutos, derramamos uma lágrima.
Cada vez que uma mulher é empurrada da escada, todas nós caímos em desespero.
Toda vez que uma mulher é espancada, sentimos no peito a dor de cada chute.
Toda vez que uma mulher é abusada, ganhamos força para desmistificar a vergonha em denunciar.
Toda vez que uma roupa curta antecede a justificativa que "ela estava pedindo", nós todas pedimos pelo direito de ir e vir sem medo.
Toda vez que uma mulher bebe e se sente vulnerável, nós rogamos pela sua segurança.
Toda vez que uma mulher é cerceada de explanar suas opiniões, nós imploramos pela sua voz.
Toda vez que chamam uma mulher de louca por ela se defender do machismo velado, nós pedimos para que ela jamais se cale.
Toda vez que uma mulher é posta a prova pelo seu trabalho ou convicções, nós pedimos para que ela seja resistência.
Toda vez que uma mulher diz não, nós pedimos para que a vontade dela seja respeitada.
Toda vez que uma mulher é menosprezada por ser quem é, nós imploramos para continuar sendo ela mesma.
Toda vez que uma mulher precisa revidar, nós pedimos para que ela seja forte e combatente.
Toda vez que uma mulher é ignorada, nós pedimos para ela se livrar de quem é ignorante.
Toda vez que uma mulher é desvalorizada, nós pagamos para ver o quão maravilhosa é a melhor versão dela.
Toda vez que uma mulher sangra até a morte, nós somos executadas lentamente.
Toda vez que falamos em sororidade, pedimos por empatia entre nós mesmas.
Toda vez que enaltecemos o feminismo, lutamos por sobrevivência.
Anas, Marias, Joanas, Célias, Carmens, Madalenas, Teresas: vidas que são transformadas em números, em estatísticas, em casos que são abertos e encerrados. Documentos, pastas, fotos, laudos. Dignidades arrancadas.
Por qual motivo somos alvos? Por qual razão a nossa existência ofende?
O som da nossa voz é ouvido como estilhaço por aquele que denigre. Somos forjadas a viver secundariamente, dando espaço ao medo da violência, dos gritos, das agressões. Às vezes, vindos de quem não conhecemos, mas, na sua maioria, por aqueles que estão dentro de casa.
Buscando no dicionário, talvez o sinônimo para a palavra mulher seja fortaleza: substantivo feminino Característica de forte; força, vigor, robustez: a fortaleza do atleta. [Militar] Lugar protegido e fortificado usado para proteger uma cidade, território; forte. [Figurado] Sensação de segurança: sua avó era sua fortaleza.
Mas por qual motivo esquecemos no criado-mudo todas as características que formam o ser capaz de aguentar a dor equivalente a 20 ossos sendo quebrados, simultaneamente, para dar a luz o fruto de seu ventre?
Ao longo dos séculos, estando lutando por aquilo que nem deveria ser colocado em pauta como direito feminino, uma vez que todo cidadão, independente de gênero, detém o poder para emanar as suas vontades.
Mas por qual motivo nós, mulheres, precisamos tomar tanto cuidado ao nos deslocarmos até a esquina?
Somos 3 855 273 136 mulheres ao redor do mundo.
Somos brancas, negras, pardas, indígenas, orientais, baixas, altas, gordas, magras, ricas, pobres, mães, filhas, avós, tias, irmãs, netas, amigas, vizinhas, colegas, fortes, guerreiras, amáveis.
Somos mulheres.

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