URUGUAIANA JN PREVISÃO

Briane Machado

Continuamos humanizados?

Tempos difíceis. Chegamos ao extremo do medo, das incertezas, do receio que qualquer passo fora de casa seja motivo para nos tornarmos uma bomba-relógio.
Estamos cansados.
Diariamente, as notícias entram na mente de forma animalesca, sem qualquer aviso prévio, talvez, por já estarmos nos acostumando - de certa forma - com a avalanche de informações desagradáveis.
Há um ano, pensei que a quarentena duraria cerca de 15 dias. Hoje, comemoro cada dia que as pessoas permanecem vivas, bem e com saúde.
Em 2020, me preocupava em como o trabalho ficaria dentro de tantas informações inconsistentes. Hoje, o trabalho está em segundo plano.
E, assim, percebemos de vez que só temos o hoje, o presente. Um presente.
Vejo pessoas driblando os fatos, disfarçando o negacionismo ou tentando evitar os infortúnios de usar máscara. Realmente, ela passou a ser fator primordial para a sobrevivência. Protagonista mundial.
Como chegamos até aqui?
Não posso falar que há uma perspectiva positiva sobre os fatos que nos assolam há 365 dias. Mas, talvez consiga dizer que, por um lado menos agressivo, cuidado e sorte fazem daqueles que não foram atingidos verdadeiros privilegiados.
Acredito que chegamos ao ápice do desrespeito coletivo, do egoísmo exacerbado, da negligencia descabida, do descaso social.
São duras palavras para caracterizar o cenário atual, entretanto, não vejo outra forma de elucida-lo. Eu não gostaria de voltar a escrever sobre o mesmo assunto em que me peguei pensando durante horas no ano passado. E os mesmos sentimentos norteiam a preocupação grotesca a que estamos expostos dia após dia.
Os números eram nossos aliados, hoje, são nossos inimigos. A velocidade em que as doses de esperança são aplicadas não chega nem perto do número de pessoas que se vão. É uma realidade extremamente dura, cruel.
Independentemente da sua crença ou religião, cito uma frase do Padre Fábio de Melo, o qual dizia que "há muito tempo a humanidade não sentia tão profundamente as consequências de sua desumanização.".
Não temos leitos em hospitais, estamos sem respiradores, tivemos uma crise pela falta de oxigênio. Pessoas morreram, o caos está instalado. Mas, por qual motivo alguns ainda preferem fechar os olhos e fazer de conta que nada está acontecendo?
Em que momento o discurso de empatia, solidariedade e amor ao próximo deu espaço ao egoísmo, ao narcisismo e total falta de amparo?
Será que estávamos vivendo sob a égide da cegueira e nos deixamos levar por aquilo que tampouco existiu?
Não consigo lembrar do marco inicial em que a humanidade parou de olhar para o próximo. Em que momento isso aconteceu?
Assim, passo a compreender que o umbigo de alguns vale mais. Talvez, a máscara seja melhor, o álcool em gel mais potente. Inúmeras dúvidas e pensamentos para tentar compreender o motivo de que alguns ainda estão vivendo o "faz de conta".
A realidade é dura, pesada e nos massacra. Todo dia a mesma coisa, os mesmos sentimentos e o medo que já faz parte da vida da maioria de nós.
Precisamos, mais do que nunca, nos voltarmos ao que realmente importa, com urgência.
O vírus não escolhe. Mas, nós podemos escolher detê-lo através das inúmeras medidas que já são de conhecimento coletivo.
Mantenha-se vigilante para que a humanidade persista.

Saramago escreveu Anterior

Saramago escreveu

Mulheres fortalezas Próximo

Mulheres fortalezas

Deixe seu comentário