URUGUAIANA JN PREVISÃO

Briane Machado

É só um desabafo

O que você estava fazendo há um ano?

Lembra-se dos seus pensamentos, dos seus planos, de quem estava ao seu lado, exatamente, em abril de 2019?

Antes que pergunte, eu me lembro.

Sabia exatamente o que queria, para onde estava indo, quem eram as pessoas que estavam comigo e com quem eu poderia contar até de olhos fechados.

A questão toda é que, num piscar de olhos, não existem mais planos, o seu trabalho tão edificante, simplesmente, para. Você se preenche de dúvidas e dívidas. Coisas acontecem que mudam o eixo da Terra.

Em questão de segundos, tudo muda. E isso traz certo desconforto, uma bagunça que não sabemos por onde começar a organizar.

Hoje, nem consigo sair de casa direito - meus passeios estão vinculados a supermercado, farmácia e padaria - e preciso agradecer por ainda contar com meios para adquirir alimentos.

Vejo milhares de pessoas vendendo o almoço para comprar a janta e isso não só nos faz gratos por ainda ter comida na mesa, mas gera uma enorme sensação de impotência, por não conseguir ajudar da forma como deveria ou como gostaria.

No último domingo, completei 31 anos. Minha comemoração se resumiu a pai, mãe, irmã e cachorro. Sem muitos abraços, recebendo felicitações através da Internet - ainda bem que ela existe e encurta distância - mas, muito grata por saber que todos estavam bem, com saúde.

Todo dia, quando vou assistir as notícias sobre a pandemia que vem devastando a existência humana, sinto que estamos no meio da estrada, nem tão lá e nem tão cá.

Estamos buscando a luz no fim do túnel que demora a aparecer - por enquanto, me esforço muito para perceber as faíscas que estão lá fora.

Penso, dia após dia, como será o depois e o que me resta é, desde já, agradecer por tudo que tenho e por tudo que irei receber. Exercer a gratidão nesse momento parece tão fugaz, porém, extremamente necessário para fortalecer as estruturas emocionais - não é fácil segurar as mudanças de planos quando você não concorreu para tanto.

Em casa, eu traço planos, tento cumprir metas, me viro em cinco para aprender, me especializar e me reinventar para o pós-crise.

Quem dera que todo mundo tivesse essa possibilidade.

A crise nos assola. Desintegra-nos. Despe-nos de toda imagem forte, nos coloca nos seus devidos lugares: somos vulneráveis.

Há quem diga que estamos todos no mesmo barco, mas não. Cada um vive uma realidade diferente e não temos como determinar quem está bem ou mal. A única coisa que nos iguala é o fato que vem nos desafiando.

Sabemos que não seremos mais os mesmos após a tempestade passar. O que tinha importância antes, hoje já não ocupa mais o mesmo lugar. O que queríamos ontem, não faz mais parte vida. O que nem pensávamos antes, passou a ser protagonista da vida.

Não seremos mais as mesmas pessoas que comemoraram o Réveillon de 2020.

Espero que sejamos melhores enquanto humanidade. Que a lição seja aprendida ao pé da letra.

Desejo tudo de bom a você que está lendo.

Que tudo isso passe logo.


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