URUGUAIANA JN PREVISÃO

Rubens Montardo Junior

O último ato

O cidadão brasileiro José Celso Martinez Corrêa, nasceu em  30 de março de 1937, na cidade de Araraquara; conhecido como Zé Celso, foi um diretor, ator, dramaturgo e encenador, um dos grandes nomes do teatro brasileiro. Filho de José Borges Correa e Angela Martinez, nasceu no interior de São Paulo numa família de ascendência portuguesa, espanhola e italiana. De 1955 a 1960, em São Paulo, Zé Celso entrou para  Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, mas não concluiu o curso. Porém, foi na USP que o dramaturgo formou o Teatro Oficina. Nessa época, destacam-se as encenações de Pequenos Burgueses  − peça que enfoca a Rússia às vésperas de sua Revolução e evidencia numerosos pontos de contato com a realidade nacional anterior ao golpe militar de 1964 −, O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade − espetáculo-manifesto tornado emblema do movimento tropicalista − e Na Selva das Cidades (1969), obra de Bertolt Brecht que trata da profunda crise que atravessava o país e a equipe artística. Pequenos Burgueses, embora suspenso em abril de 1964 por autoridades militares que acabavam de tomar o poder, rendeu a José Celso todos os prêmios de melhor direção do ano e as críticas colocaram a produção como a mais perfeita encenação do teatro brasileiro; a apresentação retornou aos palcos no mês seguinte.

Em 1961, já em processo de profissionalização, o grupo aluga a sede do Teatro Novos Comediantes, tendo como fundadores, além de Zé Celso, Renato Borghi (1937), Ítala Nandi (1942) e Etty Fraser (1931-2018). Neste período, a companhia obtém repercussão montando textos como "Pequenos burgueses" (1963), do russo Máximo Gorki (1868-1936), com influências do método Stanislavski. Com o golpe militar no ano seguinte, a peça é censurada e obrigada fazer cortes.

Ainda em 1964, o diretor monta "Andorra", do suíço Max Frisch (1911-1991), usando a crítica ao antissemitismo do texto original para abordar o regime militar brasileiro, e marcando a transição do grupo ao teatro épico de Bertolt Brecht (1898-1956). Entre 1964 e 1966, Zé Celso viaja para a Europa, e, na volta ao Brasil, monta no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). No mesmo ano, o prédio do Oficina é incendiado por grupos paramilitares, e a companhia remonta antigos sucessos para levantar fundos. Em 1974, enfrentou problemas com a censura e partiu para o exílio em Portugal, onde criou o grupo Oficina-Samba. Na época, realizou dois documentários: O parto, sobre a Revolução dos Cravos, e Vinte e cinco, sobre a independência de Moçambique. Voltou para São Paulo em 1978 e criou um movimento para manter aberto o Teatro Oficina, que ele rebatizou de Teatro Oficina Uzyna Uzona, tombado em 1982 e reinaugurado em 1983.

O dramaturgo Zé Celso Martínez morreu na manhã de quinta-feira (6) em São Paulo, aos 86 anos. Seu estado de saúde havia tido um agravamento na quarta-feira (5), de acordo com a médica Luciana Domschke. Ele havia sido internado na UTI do Hospital das Clínicas desde a manhã desta terça (4), após sofrer queimaduras devido a um incêndio em seu apartamento no Paraíso, Zona Sul de São Paulo. Dois dias antes do incêndio, Zé Celso foi selecionado para a lista 50 Over 50 2023 da revista Forbes, que homenageou personalidades que trazem impacto para a cultura brasileira.  

Ao longo de décadas, Zé dirigiu espetáculos de grandes autores, como Samuel Beckett, Eurípides, William Shakespeare e Oswald de Andrade, protagonizados por grandes nomes como Júlia Lemmertz, Alexandre Borges, Camila Mota, Sylvia Prado, Pascoal da Conceição, Leona Cavalli, entre outros. Foram 65 anos de atividades culturais. 

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