URUGUAIANA JN PREVISÃO

Ricardo Peró Job

Um governo no corner

O Centrão é um conhecido grupo de parlamentares fisiológicos que infestam Congresso Nacional. O presidente Jair Bolsonaro, assim como toda a torcida do Flamengo sabiam que, para se tornar a base do governo, além de receber cargos nos segundo e terceiro escalão do Executivo, o bando queria se ver livre de seu maior inimigo, aquele que botou boa parte de seus companheiros atrás das grades e processou uma parcela considerável de seu grupo: Sérgio Moro. Não foi difícil.  

Já no início de seu governo, o presidente, instado por seus pimpolhos e pelo grupo dos bolsonaristas dito "autênticos" - na realidade um grupo de celerados - passou a desconfiar do ministro, devido a grande popularidade e respeito que este inspirava na maioria da população, exceto, é claro, nos integrantes do antigo governo e sangue-sugas do dinheiro público. Nada fez para evitar que o Coaf saísse do Ministério da Justiça, tentou dividir em dois a pasta - o que só não ocorreu por pressão popular - e nada fez para que o projeto de combate à criminalidade do ministro não fosse desfigurado no Congresso. Além do mais, em seu despreparo intelectual, queria o presidente que Moro agisse como um "delegado de polícia amigo", estando sempre à disposição para resolver seus problemas pessoais e familiares e ordenando e interferindo em "investigações" sem importância, algumas beirando o ridículo. Como não conseguiu, resolveu intervir no Ministério, nomeando para a chefia da Polícia Federal um "amigo". Já tentara em outra ocasião. Na primeira, diante da ameaça de demissão de Moro, recuou. Na segunda, encontrou o ministro descontente e frustrado por jamais ter tido a prometida "independência" e apoio do presidente e descontente por ter de pertencer a um governo que irá "acolher" em seu seio o bando do Centrão, finalmente atirou a toalha.

Embora o novo ministro da Justiça tenha o respeito no meio jurídico e o novo chefe da PF o da categoria, como resultado de seu destempero, Bolsonaro perdeu parte de seu apoio popular. Até então havia um tripé que dava sustentação a este governo: os ministros, Guedes, Moro e Heleno, este último representando a ala militar. Moro está fora, Guedes balança e Heleno, administra uma ala já dividida do Exército, com vários descontentes, representados pelo ex-ministro Santos Cruz, primeira vitima dos "bolsonaristas autênticos". Aqueles que, na última eleição, sem outra opção no enfrentamento eleitoral ao "poste" que representava o bando liderado por Luiz Inácio da Silva, o "Lula", optaram por direcionar o voto a Jair Bolsonaro sem grande convicção, não estão mais com o governo. Formam a maioria deste grupo, uma boa parcela dos liberais e dos conservadores, representados no governo por Paulo Guedes, Tarcísio Gomes de Freitas e Tereza Cristina, quase todos, admiradores do ex-ministro da Justiça.

Na realidade, os "autênticos", até agora nada mais fizeram do que atrapalhar o governo Bolsonaro, perseguindo membros do primeiro e segundo escalão, fomentando fofocas internas rasteiras, ciúmes eleitoreiros e antagonizando pelas redes sociais com importantes membros da política nacional e até mesmo internacional. Agora, conseguiram o que parecia impossível: viabilizaram uma candidatura de centro capaz de derrotá-los nas urnas com relativa facilidade, a do agora ex-ministro Sérgio Moro.

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