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Caso Bernardo

Leandro Boldrini é condenado a 31 anos e oito meses de prisão

imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Leandro Boldrini foi condenado pelo homicídio do filho e por falsidade ideológica.

Chegou ao fim, no final da tarde de ontem, 23/3, o segundo julgamento do médico Leandro Boldrini, acusado de participar do assassinato do próprio filho, Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos à época do crime. O homem foi condenado a 31 anos e oito meses de prisão, por homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação) e falsidade ideológica. Já quanto a acusação de ocultação de cadáver, Leandro foi absolvido.

O julgamento foi presidido pela juíza de Direito Sucilene Engler, titular da 1ª Vara Judicial de Três Passos. Ao ler a sentença, a magistrada destacou a gravidade do crime, o fato de que o comportamento da vítima em nada contribuiu para o crime, e ainda o fato de o menino ser filho do réu e menor de 14 anos. A Magistrada também destacou que Boldrini respondeu preso ao processo – totalizando quase nove anos – o que deve ser contabilizado como cumprimento de pena. Ainda assim, conforme ela, restam mais de oito anos de pena a cumprir e, por isso, o regime inicial é o fechado. Cabe recurso da decisão ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, mas Boldrini não poderá recorrer em liberdade.

O réu já havia sido julgado, em 2019, e condenado a 33 anos e oito meses de prisão. No entanto, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) anulou o júri e determinou que ele fosse novamente submetido a julgamento em razão de comportamento inadequado por parte de um dos promotores que atuou na ocasião.

O crime

Bernardo, cuja mãe, Odilene Uglione, se suicidou em 2010, morava com o pai e a madrasta, Graciele ‘Kelly’ Ugulini, em Três Passos. O menino tinha ainda uma irmã, fruto do segundo casamento do pai, à época com 1 ano e oito meses. Ele desapareceu no dia 4 de abril de 2014 e, dez dias depois seu corpo foi encontrado dentro de um saco plástico, em uma cova vertical em uma propriedade às margens do rio Mico, em Frederico Westphalen, cidade vizinha a Três Passos.

Bernardo foi morto por uma superdosagem do medicamento Midazolan, um sedativo de alta potência. Antes de ser enterrado, seu corpo foi balhando em soda caustica.

No mesmo dia, o pai e a madrasta da criança foram presos, suspeitos, respectivamente, de serem o mentor intelectual e a executora do crime, com a ajuda da amiga dela, Edelvania Wirganovicz. Dias depois, Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvania, foi preso, suspeito de ser a pessoa que preparou a cova onde o menino foi enterrado.

Os outros três acusados, Graciele e os irmãos Edelvania e Evandro, também foram condenados e cumprem pena. Graciele, porém, é a única que permanece presa em regime fechado. Edelvania progrediu para o regime semiaberto no ano passado e Evandro está em livramento condicional desde aquele ano. Todos responderam ao processo presos e o tempo conta no cumprimento da pena.

Depoimentos

O novo júri teve início na manhã de segunda-feira, 20/3. No primeiro dia foram apresentados vídeos e áudios recuperados do celular do pai e da madrasta de Bernardo, que mostram o menino pedindo socorro, e ainda discussões entre os três, que incluem ameaças da madrasta à criança. Logo depois, a delegada que investigou o crime, Caroline Bamberg, prestou um depoimento de mais de seis horas. Ela disse acreditar veementemente que o Leandro teve participação do crime. "Não há uma prova cabal de que ele estava no local do crime, mas há um conjunto probatório de que ele foi o mentor da morte", disse.

No segundo dia de julgamento foram ouvidas outras testemunhas de acusação, entre elas uma vizinha da família, Juçara Petry, de quem Bernardo era próximo e na casa de quem a criança costumava ficar, inclusive passando noites e finais de semana. Ela relatou que o menino vivia na rua, que o pai e a madrasta o deixavam para fora de casa, que não ficavam com a criança e que Bernardo sequer tinha permissão para sentar-se à mesa, nas refeições, junto com o restante da família. Também contou que a criança não tinha roupas adequadas, especialmente no inverno, e que era completamente negligenciado pelo pai.

O depoimento da psicóloga Ariane Schmitt, que atendeu Bernardo em 2011 e em 2013, corroborou esta versão. Última testemunha de acusação a ser ouvida, já na quarta-feira, a profissional disse que enfrentou dificuldades para fazer o pai e a madrasta serem presentes na terapia. Disse que Bernardo compareceu a sessões visivelmente dopado e em uma ocasião febril. “Encaminhei ele direto para o pediatra, que constatou que ele estava com pneumonia. Ele andava sem um casaquinho, de sandália, no frio”, relatou. Conforme ela, Bernardo Boldrini era “um órfão de pai vivo”.

As oitivas das testemunhas foram concluídas na noite de quarta-feira, 2/3, e a previsão era de que os trabalhos fossem retomados nesta quinta-feira, 23/3, com a oitiva de Boldrini, que a exemplo do que ocorrera no primeiro júri, pretendia se manifestar. No entanto, a juíza Sucilene Engler informou que o interrogatório foi cancelado por razões médicas, que não foram detalhadas. Conforme a defesa de Boldrini, houve uma avaliação médica realizada pelo Judiciário, que determinou a não participação do réu no interrogatório. Mais cedo, ele chegou ao fórum visivelmente agitado.

Assim, o júri passou imediatamente aos debates, que não foram acompanhados por Boldrini em plenário.

O filho era um estorvo

A acusação no júri ficou a cargo dos promotores Lúcia Helena Callegari e Miguel Germano Podanosche. De acordo com eles, Leandro Boldrini planejou o assassinato do filho porque via o menino como “um estorvo” para o novo núcleo familiar formado com a filha do casal e para evitar que ele ficasse com a herança deixada pela mãe.

Os agentes ministeriais pontuaram que a relação do médico com o filho era de completo desleixo, que Leandro não só não participava da vida do menino como “sabia que Graciele odiava o enteado e permitia que ela o maltratasse”. Para o MP, ele e a mulher tinham a “ideia fixa de se livrar da criança”. Os promotores pediram aos jurados o acolhimento integral da denúncia, e que Leandro Boldrini fosse condenado a pena máxima possível.

Péssimo pai, mas assassino não

Já a defesa de Boldrini esteve a cargo dos advogados Rodrigo Grecellé Vares e Ezequiel Vetoretti. Os dois sustentaram a inocência do médico, disseram que ele não sabia dos planos da agora ex-mulher e que não tivera nenhuma participação no crime. Os dois iniciaram sua explanação ressaltando que Leandro era um péssimo pai, e que deve pagar por isso, lembrando a existência de um processo paralelo em que ele é acusado de abandono, maus tratos e tortura contra o filho. Mas que este comportamento não é suficiente para condená-lo e que não há no processo nenhuma prova da participação dele.

Os advogados alegam que Graciele planejou o crime e procurou Edelvania para ajudá-la, ressaltaram que o depoimento das duas ao longo do processo e no julgamento realizado em 2019 vai no mesmo sentido.

Os dois também apontaram falhas na investigação e produção de provas, bem como na tese do Ministério Público. Entre os pontos questionados está a autenticidade da assinatura de Boldrini na receita médica que permitiu à madrasta de Bernardo comprar midazolan em comprimido. O medicamento foi usado para dopar a criança no dia do crime. Já a dose fatal da mesma medicação, desta vez injetável, teria sido furtada do hospital onde o casal trabalhava.

Ao longo do processo, Graciele, que era enfermeira, contou que pegou o receituário do então companheiro e falsificou sua assinatura. Uma Perícia do Instituto Geral de Perícias (IGP) não foi capaz de confirmar que a assinatura era mesmo de Boldrini, enquanto uma perícia particular determinou que ela fora falsificada, apontando sete pontos de divergência.

“A promotora disse aqui que não importa se a assinatura era dele ou não. Mas importa sim, e muito. O Ministério Público, que tem a obrigação de apresentar as provas do envolvimento do Leandro, não trouxe nenhuma. As únicas provas aqui servem para o processo que ele responde por maltratar o filho, não por mandar matá-lo. Era um péssimo pai, mas não mandou matar o filho”, disse o advogado Ezequiel Vetorreti.

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